terça-feira, 21 de junho de 2016

Fisioterapia e paliação: temos algo a fazer?

Fisioterapia e paliação: temos algo a fazer?

A história dos cuidados paliativos inicia-se por volta do séc. V, quando Fabíola, discípula de São Jerônimo, cuidava de peregrinos no Porto de Roma provenientes da Ásia e África, num local com toques de albergue mas já exercendo algumas características de um Hospice. No séc. XIX, muitas organizações religiosas deram continuidade a esses locais para tratamento de enfermidades crônicas. Em 1967, Cicely Sanders funda o St. Christopher´s Hospice, mas em apenas 1980 a Organização Mundial de Saúde publica o que seria o primeiro conceito de cuidados paliativos: “Cuidado ativo e total para pacientes cuja doença não é responsiva a tratamento de cura. O controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicossociais e espirituais é primordial. O objetivo é proporcionar a melhor qualidade de vida possível para o paciente e familiares”, ou seja, o local de cuidados paliativos existiu, antes do mesmo, enquanto conceito.
Em 2008, a dra. Moritz e demais pesquisadores publicaram uma interessante revisão sobre o tema dentro da realidade da terapia intensiva, relacionando os princípios fundamentais dos cuidados paliativos dos quais destaco: “ garantir qualidade da vida e do morrer” e “aliviar a dor e sintomas associados”.
Tendo em vista esses dois princípios especificamente, acredito que a fisioterapia possa beneficiar e muito pacientes sob cuidados paliativos. Em 2005, na revista brasileira de cancerologia, foi publicada uma revisão enfatizando o papel da fisioterapia no paciente com câncer onde destaca-se: a atuação contra os quadros álgicos; condições osteomioarticulares adversas (contraturas, espasmos, encurtamentos, rigidez articular etc.). Acredite, vivemos na era da mobilização.
Muitas vezes essas disfunções são consequências não diretamente da enfermidade gatilho da paliação, mas pelo simples fato do paciente encontrar-se mais depressivo, acamado, restrito ao leito, imerso na tal síndrome do imobilismo. Com atuação também na dispnéia, função tóraco-diafragma-pulmonar, e no desmame da assistência ventilatória, a conduta fisioterapêutica deve ser estimulada.
Entretanto, cabe uma reflexão: se o que nós fisioterapeutas no intuito dar mais qualidade no fim da vida, estamos causando dor, desconforto ou mesmo o paciente está tão grave que o seu quadro terminal (instabilidade latente, dor ao extremo, uso de drogas vasoativas em doses extremas, etc.) já contra-indica qualquer abordagem, acredita-se melhor seguir com o curso natural da vida não sendo necessário qualquer conduta.
Num estudo retrospectivo de 3 anos, com pacientes idosos graves em cuidados paliativos definidos, avaliando-se o pós extubação dos mesmos, demonstrou-se como resultados uma sobrevida variando de 4 minutos a 7 dias após a extubação, onde 77% dos pacientes faleceram no hospital,  e os únicos fatores associados à morte precoce foram a pressão arterial sistólica inferior a 90 mmHg (p = 0,002) e um índice de comorbidades de Charlson desfavorável (p = 0,002 ). Entretanto destaca-se os 23% dos pacientes que extubados, receberam alta hospitalar. Este estudo embora retrospectivo, aponta para uma vertente no reestabelecimento da qualidade de vida, considerando inclusive um contexto muito ousado enquanto conduta como a extubação. Em muitos locais, este tipo de paciente pode estar sacramentado ao seu leito nos seus últimos dias, sem perspectiva de desmame e sem ao menos ser mobilizado.
Alexandre Roque – Fisioterapeuta
Referências:

1-End of life and palliative care in intensive care unit. Rev Bras Ter Intensiva. 2008; 20(4): 422-428.
2-O papel da fisioterapia nos cuidados paliativos a pacientes com cânce. Revista Brasileira de Cancerologia 2005; 51(1): 67-7.
3-How long does (s)he have? Retrospective analysis of outcomes after palliative extubation in elderly, chronically critically ill patients. Crit Care Med, 2016; 44:1138–1144.   

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