terça-feira, 19 de julho de 2016

Síndrome Pós Terapia Intensiva – “PICS”

Síndrome Pós-Terapia Intensiva – “PICS”

O termo síndrome pós-terapia intensiva (PICS) foi descrito por Needham et al. (2012) e está associado ao declínio ou o surgimento de novas alterações após a doença crítica nos domínios físico, cognitivo ou mental que persistem por meses ou anos após a alta hospitalar. O aumento da incidência da doença crítica, bem como a redução da mortalidade resultaram em um número crescente de sobreviventes pós unidade de terapia intensiva (UTI) e grande porcentagem com PICS sendo observada a redução na qualidade de vida e a sobrecarga de cuidados dos familiares e dos serviços de saúde.1,2
Alguns mecanismos como a hipóxia, hipotensão, inflamação, desregulação da glicose, catabolismo e deficiências nutricionais podem conduzir a vários prejuízos que interagem entre si além de tratamentos utilizados durante a doença crítica, incluindo intubação endotraqueal, repouso prolongado no leito/imobilização, uso de benzodiazepínicos, outros sedativos e interrupção do ciclo sono-vigília também podem contribuir para a síndrome pós-UTI.  
A fadiga e a fraqueza muscular são os sintomas mais prevalentes e a recuperação da função muscular após doença crítica é muitas vezes incompleta. Em estudos com biópsia muscular foram observadas anormalidades nos músculos esqueléticos de praticamente todos os pacientes em recuperação da doença crítica que incluem neuropatia axonal, denervação, atrofia das fibras, neuropatia inespecífica e miopatia necrosante.3 Em outros, a fraqueza muscular adquirida na UTI foi diagnosticada em 67% dos casos de pacientes ventilados mecanicamente por um período maior que 10 dias 4 e sinais dessa fraqueza podem persistir por até 5 anos em 85% dos pacientes. Os sintomas relacionados aos domínios cognitivo como o dellirium e o mental como a síndrome do estresse pós traumático, a ansiedade e a depressão também são prevalentes em grande parte desses pacientes após a alta da UTI. 5
No período em que o paciente está em ventilação mecânica e restrito ao leito, a assistência fisioterapêutica no cuidado do paciente crítico pode auxiliar na identificação precoce de problemas cinético-funcionais. Nesta fase, o programa de reabilitação incluindo mobilização, eletroestimulação (EENM) e cicloergometria é recomendado como prática crucial e segura para recuperação destes pacientes 6–8. A mobilização é uma intervenção viável e segura e ao ser realizada durante o internamento na UTI promove impacto na funcionalidade após a alta hospitalar.
A resposta muscular à terapêutica , seja por cinesioterapia ou por EENM, pode ser mensurada através da escala de força muscular do Medical Research Council (MRC), a qual é amplamente utilizada para avaliar a força muscular periférica em pacientes críticos. Também pode-se utilizar o dinamômetro para avaliação da força de preensão palmar, a eletroneuromiografia e o ultrassom como testes diagnósticos.
Diante disso, nós como fisioterapeutas devemos aumentar a consciência sobre a síndrome pós terapia intensiva e juntamente com a equipe multidisciplinar realizar uma abordagem de diagnóstico e tratamento mais coordenada e de seguimento durante a estadia na UTI, desde o dia de admissão para tentar promover impacto na recuperação após doença crítica com objetivo de melhorar a qualidade de vida e funcionalidade nesses pacientes.

Dra. Karoline Richtrmoc
Fisioterapeuta Intensivista

1.        Needham, D. M. et al. Improving long-term outcomes after discharge from intensive care unit: report from a stakeholders’ conference. Crit. Care Med. 40, 502–509 (2012).
2.       Merbitz, N. H., Westie, K., Dammeyer, J. A., Butt, L. & Schneider, J. After critical care: Challenges in the transition to inpatient rehabilitation. Rehabil. Psychol. 61, 186–200 (2016).
3.     Griffith, D. M., Vale, M. E., Campbell, C., Lewis, S. & Walsh, T. S. Persistent inflammation and recovery after intensive care: A systematic review. Journal of Critical Care (2016). doi:10.1016/j.jcrc.2016.01.011
4.       Mirzakhani, H. et al. Muscle weakness predicts pharyngeal dysfunction and symptomatic aspiration in long-term ventilated patients. Anesthesiology 119, 389–97 (2013).
5.     Parker, A., Sricharoenchai, T. & Needham, D. M. Early Rehabilitation in the Intensive Care Unit: Preventing Physical and Mental Health Impairments. Curr. Phys. Med. Rehabil. reports 1, 307–314 (2013).
6.      Morris, P. E. et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment of acute respiratory failure. Crit. Care Med. 36, 2238–2243 (2008).
7.       Ricks, E. Critical illness polyneuropathy and myopathy: a review of evidence and the implications for weaning from mechanical ventilation and rehabilitation. Physiotherapy 93, 151–156 (2007).
8.       Stiller, K. Safety Issues That Should Be Considered When Mobilizing Critically Ill Patients. Crit. Care Clin. 23, 35–53 (2007).


Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21946660

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