Ventilação Não Invasiva em ASMA, resultados controversos???
Caro colega como temos utilizado
a ventilação não invasiva em pacientes com crises de asma na prática clínica? Quais
são as nossas indicações, resultados, parâmetros e tempo de uso?
Em artigo publicado na Chest em
2015, Stefan MS e col1 , relataram a baixa incidência de utilização
da ventilação não invasiva em pacientes com exacerbação de asma. Este estudo
envolveu 58 hospitais, com dados de 13.558 pacientes. Os resultados mostraram
que 90,3% não foram ventilados, apenas 4.0% foram inicialmente tratados com VNI
e 5,7% foram direto para a ventilação invasiva. A mortalidade intrahospitalar foi de 0,3% nos pacientes não
ventilados, 2,6% nos pacientes com VNI e 15,6% naqueles pacientes que foram inicialmente
para a ventilação invasiva.
Em 2012 foi publicada uma meta
análise2 com cinco artigos incluindo 206 pacientes , concluindo
escassez de dados que apóiem o uso da VNI em pacientes com crise de asma,
permanecendo controverso o uso deste recurso na prática clínica atual.
Um editorial publicado este ano,3
foi mais incisivo na sua opinião sobre a VNI na crise de asma, relatando que os
efeitos na agudização da DPOC são claros, porém na crise de asma são
controversos, sugerindo em alguns tópicos até mesmo que este suporte ventilatório
poderia não ser satisfatório: 1. Por estarem
dispnéicos, estes pacientes poderiam não ser colaborativos não havendo boa
coordenação com a máquina gerando mais desconforto; 2. Visto que a produção de
muco é parte do quadro de asma, a VNI poderia aumentar a retenção de secreção
pelo elevado fluxo e, aumentar a hiperreatividade por ressecamente das vias
aéreas.
Em 2014 foi publicado um trabalho
com cinco anos de avaliação de caso controle4. A decisão para
iniciar a VNI foi baseada principalmente no aumento do trabalho respiratório e
ou acidose respiratória, optou-se por ventilar com dois níveis de pressão, com
IPAP entre 10 e 12 cmH2O com média de 11.9 ±
1.4 cmH2O e EPAP entre 4 e 6 cmH2O com média de 5.8 ± 1.2 cmH2O. Os ajustes
pressóricos visaram redução da freqüência respiratória e ou da pressão parcial
de dióxido de carbono no sangue arterial. Sendo considerada necessidade de
ajuste quando existia dificuldade de troca persistente ou colapso da via aérea.
O tempo de suporte ventilatório foi de 9.5
± 7.3 h. A mortalidade foi de 41% no grupo ventilado invasivamente e zero no
grupo VNI, nenhum dos pacientes com VNI evoluiu para intubação. O tempo de
hospitalização foi menor no grupo VNI (121 ± 96 h) quando comparado ao grupo
ventilado invasivamente (136 ± 99 h).
Diante
do exposto queria discutir alguns dados que podem ser contornados na prática
clínica:
1. No primeiro trabalho citado apenas 4% dos pacientes usaram VNI e 5,7%
ventilação invasiva. Não foi relatado o motivo da opção direto por ventilação
invasiva, talvez o número de VNI pudesse ser maior.
2. Quanto ao resultado da meta análise não se tem o que discutir, se
realmente os cinco estudos utilizados falam isso, o que podemos argumentar é
que falta estudos para consolidar melhor uma impressão sobre os resultados da
VNI na crise de asma.
3. Os problemas listados no editorial são contornados na prática clínica:
a. A assincronia existente entre o paciente e o ventilador pode ser
corrigida, dependendo do equipamento que esteja utilizando existe uma gama de
ajustes a fazer, por tanto este problema não deveria ser um empecilho no
suporte ventilatório. Chamando a atenção para o fato de que este paciente deve
ser monitorizado e não colocar a VNI e deixar para voltar duas horas depois
para fazer avaliação.
b. O fluxo inspiratório realmente é alto, por conta da demanda do paciente,
podendo gerar um “bias” de fluxo inspiratório, o que pode favorecer a retenção
de secreção, o que não seria diferente se este paciente estivesse na ventilação
invasiva, portanto não seria contra-indicada a VNI por este tópico.
c. O ressecamento das vias aéreas que poderia agravar a hiperreatividade,
porém a umidificação poderia ser associada revertendo essa situação.
Volto a
algumas perguntas iniciais:
1. Estamos utilizando parâmetros ideais e monitorizando os resultados destes
parâmetros implementados inicialmente, para ajustes subseqüentes? O que algumas
vezes se vê é que os parâmetros, na prática clínica são comuns para todo mundo
(14 x 8) IPAP e EPAP respectivamente, não se faz dosimetria ajustada para cada
patologia e cada caso individualizada.
2. O tempo de utilização para reversão do quadro clínico tem sido
respeitado? Ou estamos ainda com aquele conceito inicial de que VNI deverá
durar em torno de 2 horas? Como assim? Se o caso não foi revertido?
Precisamos
assumir mais a responsabilidade dos resultados das nossas condutas e, não como
algumas vezes acontece, apenas aceitar que o resultado não foi satisfatório!
Será que não precisamos nos perguntar qual a minha parcela de culpa neste
resultado? Eu não poderia ter dado um desfecho diferente?
1.
Stefan MS,
Nathanson BH,
Priya A,
Pekow PS,
Lagu T,
Steingrub JS,
Hill NS,
Goldberg RJ,
Kent DM,
Lindenauer PK. Hospitals' Patterns
of Use of Noninvasive Ventilation in Patients With Asthma Exacerbation. Chest. 2016;149(3):729-36.
2. Lim WJ,
Mohammed
Akram R, Carson KV,
Mysore S,
Labiszewski
NA, Wedzicha JA,
Rowe BH,
Smith BJ. Non-invasive
positive pressure ventilation for treatment of respiratory failure due to
severe acute exacerbations of asthma. Cochrane Database Syst Rev. 2012 Dec 12;12:
3. Bahloul M, Chtara K, Gargouri R, Majdoub A, Chaari A, Bouaziz M. Failure of noninvasive
ventilation in adult patients with acute asthma exacerbation. J Thorac Dis. 2016;8(5):744-7.
4. Pallin M, Hew M, Naughton MT. Is non-invasive ventilation
safe in acute severe asthma? Respirology. 2015;20(2):251-7
MSc. Wildberg Alencar
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