Podemos utilizar o cicloergômetro passivo em pacientes críticos ventilados mecanicamente?
A imobilização
prolongada dos pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI) pode
acarretar em complicações neuromusculares como fraqueza muscular que pode
progredir para a atrofia muscular com perda de 3-11% da massa muscular durante
as três primeiras semanas de imobilidade no leito. A prevalência de
polineuropatia adquirida entre esses pacientes está entre 58-96%, resultante da
combinação de ventilação mecânica prolongada e imobilidade no leito que são
capazes de provocar mudanças significativas nas fibras musculares, acarretando
redução da força muscular respiratória e periférica. Embora esta fraqueza
muscular tenha etiologia multifatorial, a reabilitação pode ajudar a minimizar
a atrofia, a perda de massa muscular e o descondicionamento físico associado ao
repouso ao mínimo.
Nesse contexto,
o cicloergômetro - uma peça estacionária que permite rotações cíclicas de
extremidades superiores e/ou inferiores - pode ser de grande utilidade em
hospitais para executar exercícios passivos, ativos e resistidos. O estudo de
Burtin, em 2009 que utilizou exercícios com o cicloergômetro mostrou melhora na
força do quadríceps, estado funcional, TC6 na alta hospitalar quando comparados
a pacientes que receberam apenas fisioterapia padrão sem cicloergômetro em
membros inferiores. Apesar de ser amplamente utilizado ambulatorialmente no
tratamento de pacientes com DPOC, poucos estudos avaliaram os seus efeitos em
ambientes hospitalares, particularmente na UTI.
O cicloergômetro
pode ser um instrumento valioso para a reabilitação durante a fase
aguda da doença crítica, onde a sedação e imobilização podem limitar a
capacidade dos pacientes em participar de intervenções ativas. Com isso, os fisioterapeutas
estão envolvidos na gestão dos pacientes com doença crítica e sua avaliação e
tratamento devem se concentrar em identificar alvos para a fisioterapia.
Diante da
enorme variedade de modalidades de treinamento físico e de mobilização baseada
em evidências, como fisioterapeutas, qual a nossa responsabilidade e como devem
ser implementadas as estratégias de mobilização, prescrição de exercícios e planos
de ação? É viável a utilização do cicloergômetro na UTI? Será que o estamos subutilizando
ou esquecendo no cantinho da UTI que trabalhamos?
Dra. Karoline Richtrmoc
Fisioterapeuta.
Referências:
- Santos LJ, Lemos FA, Bianchi T, Sachetti A, Dall’Acqua AM, Naue WS, Dias AS, Vieira SRR. Early rehabilitation using a passive cycle ergometer on muscle morphology in mechanically ventilated critically ill patients in the Intensive Care Unit (MoVe-ICU study): study protocol for a randomized controlled trial. Trials. 2015; 16: 383.
- Needham DM, Troug AD, Fan E. Technology to enhance physical rehabilitation of critically ill patients. Crit Care Med. 2009;37 Suppl 10:S436–41.
- Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):2499–505.
- Gosselink R, Clerckx B, Robbets C, Vanhullebusch T, Vampee G, Segers J. Physiotherapy in the Intensive Care Unit. Neth J Crit Care. 2011;15(2):66–75.
| Figura: Gosselink R, et al. Physiotherapy in the Intensive Care Unit. Neth J Crit Care. 2011;15(2):66–75. |
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