terça-feira, 26 de abril de 2016

Podemos utilizar o cicloergômetro passivo em pacientes críticos ventilados mecanicamente?

Podemos utilizar o cicloergômetro passivo em pacientes críticos ventilados mecanicamente?


A imobilização prolongada dos pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI) pode acarretar em complicações neuromusculares como fraqueza muscular que pode progredir para a atrofia muscular com perda de 3-11% da massa muscular durante as três primeiras semanas de imobilidade no leito. A prevalência de polineuropatia adquirida entre esses pacientes está entre 58-96%, resultante da combinação de ventilação mecânica prolongada e imobilidade no leito que são capazes de provocar mudanças significativas nas fibras musculares, acarretando redução da força muscular respiratória e periférica. Embora esta fraqueza muscular tenha etiologia multifatorial, a reabilitação pode ajudar a minimizar a atrofia, a perda de massa muscular e o descondicionamento físico associado ao repouso ao mínimo.
Nesse contexto, o cicloergômetro - uma peça estacionária que permite rotações cíclicas de extremidades superiores e/ou inferiores - pode ser de grande utilidade em hospitais para executar exercícios passivos, ativos e resistidos. O estudo de Burtin, em 2009 que utilizou exercícios com o cicloergômetro mostrou melhora na força do quadríceps, estado funcional, TC6 na alta hospitalar quando comparados a pacientes que receberam apenas fisioterapia padrão sem cicloergômetro em membros inferiores. Apesar de ser amplamente utilizado ambulatorialmente no tratamento de pacientes com DPOC, poucos estudos avaliaram os seus efeitos em ambientes hospitalares, particularmente na UTI.
O cicloergômetro pode ser um instrumento valioso para a reabilitação durante a fase aguda da doença crítica, onde a sedação e imobilização podem limitar a capacidade dos pacientes em participar de intervenções ativas. Com isso, os fisioterapeutas estão envolvidos na gestão dos pacientes com doença crítica e sua avaliação e tratamento devem se concentrar em identificar alvos para a fisioterapia.
Diante da enorme variedade de modalidades de treinamento físico e de mobilização baseada em evidências, como fisioterapeutas, qual a nossa responsabilidade e como devem ser implementadas as estratégias de mobilização, prescrição de exercícios e planos de ação? É viável a utilização do cicloergômetro na UTI? Será que o estamos subutilizando ou esquecendo no cantinho da UTI que trabalhamos?

Dra. Karoline Richtrmoc
Fisioterapeuta.

Referências:
  • Santos LJ, Lemos FA, Bianchi T, Sachetti A, Dall’Acqua AM, Naue WS, Dias AS, Vieira SRR. Early rehabilitation using a passive cycle ergometer on muscle morphology in mechanically ventilated critically ill patients in the Intensive Care Unit (MoVe-ICU study): study protocol for a randomized controlled trial. Trials. 2015; 16: 383.
  • Needham DM, Troug AD, Fan E. Technology to enhance physical rehabilitation of critically ill patients. Crit Care Med. 2009;37 Suppl 10:S436–41.
  • Burtin C, Clerckx B, Robbeets C, Ferdinande P, Langer D, Troosters T, et al. Early exercise in critically ill patients enhances short-term functional recovery. Crit Care Med. 2009;37(9):2499–505.
  • Gosselink R, Clerckx B, Robbets C, Vanhullebusch T, Vampee G, Segers J. Physiotherapy in the Intensive Care Unit. Neth J Crit Care. 2011;15(2):66–75.
Figura: Gosselink R, et al. Physiotherapy in the Intensive Care Unit. Neth J Crit Care. 2011;15(2):66–75.



terça-feira, 19 de abril de 2016

Avaliação Clinica: Fraqueza muscular adquirida na unidade de Terapia Intensiva

Avaliação Clinica: Fraqueza muscular adquirida na Unidade de Terapia Intensiva


     O tema de hoje acomete um número substancial de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) admitidos por causas diversas e poderão desenvolver certa forma de fraqueza conhecida como “Fraqueza muscular adquirida em UTI” que pode estar relacionada com a doença critica aguda e associada a neuropatias axonalmiopatias primárias ou ambas. A fraqueza muscular adquirida na UTI pode causar danos e apesar disso, a atuação clinica é pouco valorizada. Os mecanismos fisiológicos compreendem uma microcirculação, mecanismos elétricos, metabólicos e alterações bioenergéticas interagindo de forma complexa cursando com perda de força muscular e/ou atrofia muscular. A fraqueza muscular é tipicamente simétrica e afeta preferencialmente os músculos proximais dos membros e músculos respiratórios. Os fatores de riscos incluem a gravidade da doença no momento da admissão, sepse, falência de múltiplos órgãos, IMOBILIDADE PROLONGADA e eventos hiperglicêmicos. O uso de medicamentos como corticoides, bloqueadores neuromusculares e alguns antibióticos ainda não estão bem esclarecidosO diagnóstico em pacientes acordados e colaborativos pode ser realizado por uma avaliação à beira do leito através da escala de força muscular do Medical Research Council (MRC), e quando a pontuação global < 48/60 está associada à fraqueza muscular adquirida na UTI. Nos casos de apresentação clinica atípica, testes eletrofisiológicos podem ser utilizados para diagnósticos diferenciais. Os pilares da prevenção é o tratamento vigoroso da sepse, MOBILIZAÇÃO PRECOCE e prevenção de hiperglicemia com insulina. Pacientes com fraqueza tem os desfechos piores e oneram os sistemas de saúde.  A recuperação geralmente ocorre dentro de semanas ou meses, embora em alguns casos possa ser incompleta persistindo por até 2 anos após a alta da UTI. O prognóstico parece ainda mais comprometido quando está relacionada com a polineuropatia critica, além disso, mostrou contribuir para o aumento do risco de morte em 1 ano após alta.  Pesquisas futuras devem se concentrar em novas estratégias preventivas e/ou terapêuticas para esclarecer como a fraqueza muscular contribui para mau prognóstico a longo prazo.  Elucubrando os resultados encontrados ate o momento, é possível evidenciar que um dos profissionais responsáveis por minimizar os efeitos da fraqueza muscular adquirida na UTI é o fisioterapeuta, seja evoluindo a ventilação mecânica para modos espontâneos o quanto antes ou no diagnóstico e treinamento dos músculos específicos ou inespecíficos que estiverem fracos.  Em particular acredito que ainda temos muito a crescer no tocante a marcadores e moduladores nesta estratégia terapêutica e um campo enorme para pesquisas. Devemos descruzar os braços e trabalhar na nossa essência enquanto fisioterapeutas. 
     Qual a incidência de fraqueza muscular adquirida na UTI na unidade que os senhores trabalham, hojeQuais estratégias estão adotando? Será que estamos causando impacto? Ficam esses questionamentos para uma reflexão no nosso papel enquanto reabilitador.

Raphael Ali – Fisioterapeuta.

• Greet Hermans,Greet Van den BergheClinical review: intensive care unit acquired weakness. Critical Care. 2015;19:274.


terça-feira, 12 de abril de 2016

VNI PREVENTIVA, QUEM SE BENEFICIA?

|VNI PREVENTIVA, QUEM SE BENEFICIA? |

Vários estudos têm sugerido que a ventilação não invasiva (VNI) profilática poderia ajudar a prevenir a insuficiência respiratória pós-extubação e consequentemente a reintubação em pacientes de alto risco para falha de extubação, no entanto, a identificação do grupo de pacientes de alto risco ainda não está bem elucidada, tornando sua indicação bastante abrangente na literatura. No ultimo post sobre VNI preventiva na nossa página, discutimos a importância da indicação da VNI preventiva considerando que, este tipo de conduta beneficia pacientes classificados como alto risco para falha de extubação e que nos pacientes de baixo risco é provavelmente inútil à utilização da VNI de forma preventiva.

Nos estudos que relacionam os pacientes considerados de alto risco para falha de extubação, os critérios de inclusão foram altamente heterogêneos e diferiram de um estudo para outro. Em uma publicação da Critical Care Medicine em 2005, Nava e colaboradores incluíram como grupo de alto risco para falha de extubação, pacientes com hipercapnia, bem como pacientes com insuficiência cardíaca crônica, várias comorbidades, tosse fraca, estridor ou ter falhado vários testes de desmame antes da extubação. Já em 2006, Ferrer e colaboradores incluíram pacientes com idade ≥ 65 anos, um alto escore de gravidade ou entubados por insuficiência cardíaca. O mesmo grupo posteriormente realizou um segundo ensaio incluindo apenas pacientes com hipercapnia. Em outro estudo publicado na Critical Care em 2013, Ornico e colaboradores, utilizaram VNI profilática apenas em pacientes entubados por insuficiência respiratória aguda com pelo menos três dias de ventilação mecânica. No entanto, nestes estudos muitos dos fatores que constituem os critérios de inclusão, como pacientes de alto risco para falha de extubação, não possuem variáveis claramente associados com reintubação.

Os estudos de Nava e Ferrer, citados anteriormente, mostraram que o uso da VNI profilática poderia reduzir o risco de insuficiência respiratória pós-extubação, particularmente em pacientes com hipercapnia, além disso, em uma publicação na Crit Care Med. em 2015, Thille e colaboradores verificaram que a duração prolongada da ventilação mecânica foi um forte preditor de falha de extubação e que os pacientes entubados mais de sete dias podem provavelmente serem considerados como de alto risco para falha de extubação. Em abril de 2016, Thille em um estudo prospectivo evidenciou que pacientes com mais de 65 anos e aqueles com doença cardíaca ou respiratória subjacente tinham alto risco de reintubação.

Entretanto, a classificação dos pacientes de acordo com a dificuldade de desmame não evidencia a falha de extubação, uma vez que, as taxas de reintubação são semelhantes entre pacientes com desmame simples e aqueles com dificuldade de desmame.

Portanto, podemos selecionar de modo simples os pacientes com indicação de VNI preventiva, como o grupo de pacientes com hipercapnia, pacientes com mais de sete dias de ventilação mecânica, pacientes com mais de 65 anos e com alguma doença cardíaca ou respiratória subjacente. É importante que mais estudos evidenciem de forma contundente os pacientes com alto risco de reintubação para que possamos indicar de forma segura e objetiva os pacientes que realmente se beneficiam da VNI preventiva.

Dr. Rodrigo Rios
Fisioterapeuta

Referências

Nava S, Gregoretti C, Fanfulla F, Squadrone E, Grassi M, Carlucci A, et al. Noninvasive ventilation to prevent respiratory failure after extubation in high-risk patients. Crit Care Med. 2005;33(11):2465–70.

Ferrer M, Valencia M, Nicolas JM, Bernadich O, Badia JR, Torres A. Early noninvasive ventilation averts extubation failure in patients at risk: a randomized trial. Am J Respir Crit Care Med. 2006;173(2):164–70.

Vallverdu I, Calaf N, Subirana M, Net A, Benito S, Mancebo J. Clinical characteristics, respiratory functional parameters, and outcome of a two-hour T-piece trial in patients weaning from mechanical ventilation. Am J Respir Crit Care Med. 1998;158(6):1855–62.

Ornico SR, Lobo SM, Sanches HS, Deberaldini M, Tofoli LT, Vidal AM, et al. Noninvasive ventilation immediately after extubation improves weaning outcome after acute respiratory failure: a randomized controlled trial. Crit Care. 2013;17(2):R39.

Boles JM, Bion J, Connors A, Herridge M, Marsh B, Melot C, et al. Weaning from mechanical ventilation. Eur Respir J. 2007;29(5):1033–56.

Thille AW, Boissier F, Ben Ghezala H, Razazi K, Mekontso-Dessap A, Brun-Buisson C. Risk factors for and prediction by caregivers of extubation failure in ICU patients: a prospective study. Crit Care Med. 2015;43(3):613–20.

Thille, Arnaud W., et al. "Easily identified at-risk patients for extubation failure may benefit from noninvasive ventilation: a prospective before-after study." Critical Care 20.1 (2016): 1.


terça-feira, 5 de abril de 2016

Predizendo falhas de extubação: o que tem de novo?

            Fracasso de extubação previamente planejada, ocorre em cerca de 15% dos casos e está associada a maus resultados, incluindo alta taxa de mortalidade, sendo cerca de 25 a 50% segundo estudos. Desenvolver estratégias que identifiquem os pacientes com alto risco de falhar é essencial para melhorar desfechos.
            Vários trabalhos descobriram que pacientes com distúrbios neurológicos (em destaque o delírio), tosse ineficaz, grande quantidade de secreção, idade maior que 65 anos e doença respiratória crônica e/ou cardíaca associadas, prediziam fortemente uma falha de extubação. No entanto, o papel respectivo do delírio, da força muscular e do desempenho do ventrículo esquerdo (VE) nunca foram sistematicamente avaliadas em conjunto. Além disso, a previsão dos cuidadores em relação ao sucesso da extubação, surpreendentemente, também nunca foi avaliada.
            Um estudo intitulado “Risk Factors for and Prediction by Caregivers of Extubation Failure in ICU Patients: A Prospective Study” realizado por Arnaud W. Thille e colaboradores, no hospital universitário Henri Mondor, na França, se propôs a avaliar no período de novembro de 2010 a abril de 2012 os pacientes que possuíssem alto risco de falha de extubação, incluindo indicadores pouco estudados, tais como: paresia, delírio, disfunção ventricular esquerda e a precisão da previsão de falha de extubação pelos cuidadores.
            Durante o período de estudo, 533 pacientes receberam ventilação mecânica invasiva na UTI e 310 foram submetidos a uma extubação programada. Após a exclusão de 66 pacientes, 225 foram incluídos nesta análise. Todos os pacientes foram rastreados durante as manhãs, preenchendo uma lista de verificação com critérios pré-definidos de desmame (check-list): paciente acordado, (sem infusão contínua de sedação), a SpO2 ≥ 90% com FiO2 ≤ 40% e pressão positiva no final da expiração (PEEP) inferior ou igual a 5 cm de H2O, e sem necessidade de drogas vasoativas.
            Após realizado check-list, utilizou-se um nível baixo de pressão de suporte (PS: 7-10 cmH2O) de forma sistemática a todos os pacientes que preencheram tais critérios. Contudo, as tentativas de desmame foram sempre realizadas sem PEEP para desmascarar insuficiência cardíaca ventricular esquerda subjacente. Ao final, um teste de permeabilidade foi sistematicamente feito antes da extubação e terapia com esteróides administrados durante 24 horas antes da extubação quando nenhum vazamento ocorreu.
            A falha do teste de desmame foi definida como o desenvolvimento, dentro de 1 hora, de qualquer um dos seguintes marcadores: FR ˃ 35 ipm, aumento da atividade muscular acessória, SpO2 abaixo de 90% (em FiO2 40%), frequência cardíaca acima de 130 bpm, pressão arterial sistólica inferior a 90 mmHg ou mais que 180 mmHg, maior dispneia ou agitação e estado mental rebaixado.
            Dentro das primeiras 24 horas após extubação, a ventilação não invasiva profilática foi rotineiramente aplicada durante pelo menos 6 horas em todos os pacientes com 65 anos ou mais e aqueles que possuíssem qualquer doença respiratória crônica e/ou cardíaca associada. Na literatura, o intervalo de tempo utilizado para definir falha de extubação varia entre 48 horas, 72 horas e até uma semana. Pacientes submetidos à extubação planejada foram classificados de acordo com a dificuldade do seu processo de desmame em: simples, difícil, ou prolongado.
No dia da extubação planejada, foi avaliada a eficácia da tosse, assim como também outros critérios: delírio, em que a       enfermeira encarregada utilizou o “Checklist de cuidados intensivos de triagem do Delirium”, definindo-o como uma pontuação ≥ 4, função cardíaca, a qual foi sistematicamente avaliada por um ultrassonografista da equipe da UTI (disfunção sistólica ventricular esquerda foi definida como a fração de ejeção ventricular esquerda inferior a 45% e disfunção grave como uma FEVE inferior ou igual a 30%), presença de hipercapnia através da análise de gasometrias arteriais coletadas antes e no final do teste de desmame e, severidade da disfunção orgânica foi medida utilizando a pontuação do Sequential Organ Failure Assessment (SOFA).
No momento da extubação, o risco de falha foi avaliado pelos profissionais de saúde, usando uma escala de cinco itens (0: risco muito baixo; 1: baixo; 2: intermediário, 3: alto e 4: muito alto). Os pacientes foram considerados de alto risco de falha de extubação para uma pontuação prevista de 3 ou 4.
As taxas de falha de extubação em caso de "desmame simples", "desmame difícil" e "desmame prolongado" foram de 11%, 13% e 39%, respectivamente (p = 0,005). Em análise multivariada, três fatores independentes para falha de extubação foram vistos: duração da ventilação mecânica maior que sete dias antes da extubação, tosse ineficaz e disfunção sistólica ventricular esquerda grave. Entre os pacientes que não apresentavam esses três fatores de risco, a taxa de falha na extubação foi de apenas 5%. Os terapeutas previram o fracasso com uma especificidade elevada, mas com uma baixa sensibilidade (isto é, a maioria dos pacientes que falharam na extubação não tinha sido considerada de alto risco).
Sendo assim, vários estudos mostraram que a eficácia da tosse pode estar associado à falha de extubação. Em estudos utilizando pico de fluxo expiratório para avaliar a força da tosse, pacientes que têm um valor de pico de fluxo expiratório baixo possuiam alto risco de falha de extubação, com taxas de reintubação de cerca de 25%.
Delírio é frequente na UTI e pode promover falha de extubação através de alteração de consciência, agitação e sedação subsequente, broncoaspiração e descumprimento de tratamentos, incluindo uso de VNI. No entanto, o papel do delírio na falha de extubação não tinha sido avaliado. Embora tenha se encontrado uma taxa de reintubação de 22% em pacientes com delírio, esta variável não foi significativamente associada à falha de extubação após o ajuste.
No entanto, apesar do respectivo papel da disfunção sistólica e diastólica no resultado da extubação também nunca ter sido avaliado antes, no estudo em questão descobriu-se que a disfunção sistólica grave foi independentemente associada à falha de extubação, mas não com o fracasso precoce. Assim, a manutenção de um balanço hídrico negativo após a extubação em pacientes com disfunção sistólica pode ter o potencial de mitigar a falha final de extubação.
Dentre as limitações deste trabalho destacam-se: o mesmo foi realizado em um único centro, os desmames foram realizados utilizando PS que reduz o trabalho da respiração e a pressão de enchimento do VE, em comparação com teste de respiração espontânea com peça em T. Apesar de a PEEP ter sido sistematicamente removida para desmascarar disfunção de VE latente, não podemos excluir que o uso de assistência ventilatória aumentou o papel da disfunção sistólica na subsequente falha de extubação; a principal limitação do estudo é o pequeno número de pacientes com falha de extubação. De fato, fracasso de extubação planejada é relativamente incomum; na maior pesquisa sobre desmame realizada por Peñuelas e colaboradores, publicada na American Journal Respiratory Critical Care Medicine em 2011, o número de pacientes que necessitaram de reintubação representavam apenas 7% de todos os pacientes entubados na UTI. Portanto, uma grande rede de vários centros ajudaria na identificação com maior precisão dos fatores de risco para falha de extubação.
Então, as três variáveis ​​identificadas neste estudo foram fortemente associadas à falha de extubação. Avaliação cuidadosa da força da tosse e da FEVE antes da extubação, especialmente em pacientes que receberam ventilação mecânica prolongada, poderia permitir uma melhor identificação dos pacientes de alto risco de insucesso de extubação, podendo alguns dos quais se beneficiarem da VNI profilática e/ ou diuréticos no período pós-extubação. Em minha vivência na terapia intensiva, tenho percebido o impacto dessas três variáveis em destaque no estudo; o tempo de ventilação mecânica prolongado, trazendo todas as suas implicações na lesão diafragmática e pulmonar, como já descrito anteriormente em artigos e até em resenhas publicadas pelo grupo FITI, nos chama à atenção para retirada da prótese ventilatória o mais cedo possível, o que, a meu ver, não seria precoce (como muitos chamam), já que o sentido do termo quer dizer antes do tempo certo; em relação a pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, a experiência tem mostrado a importância de se ter um acompanhamento do balanço hídrico a fim de zerar ou negativar o mesmo para que haja uma diminuição da sobrecarga cardíaca, a qual também é minimizada com o uso da pressão positiva (que, assim que possível, será descontinuada); temos tido sucesso com a substituição da ventilação mecânica invasiva pela não-invasiva de maneira contínua até que haja o ajuste de drogas (diuréticos, inotrópicas...) em busca de uma melhor função cardíaca para, aí então, descontinuar a VNI. Portanto, todos os marcadores que tenham impacto na diminuição da falha de extubação não devem ser negligenciados, pois, reintubação aumenta mortalidade.

Rodrigo A. Arruda – Fisioterapeuta.

“Risk Factors for and Prediction by Caregivers of Extubation Failure in ICU Patients: A rospective Study*” Arnaud W. Thille, MD, PhD1,2,3; Florence Boissier, MD3; Hassen Ben Ghezala, MD3; Keyvan Razazi, MD3; Armand Mekontso-Dessap, MD, PhD3; Christian Brun-Buisson, MD3; Crit Care Med 2015; 43:613–620.