Síndrome Pós-Terapia
Intensiva – “PICS”
O termo
síndrome pós-terapia intensiva (PICS) foi descrito por Needham et al. (2012) e está associado ao declínio ou o surgimento
de novas alterações após a doença crítica nos domínios físico, cognitivo ou mental
que persistem por meses ou anos após a alta hospitalar. O aumento da incidência
da doença crítica, bem como a redução da mortalidade resultaram em um número
crescente de sobreviventes pós unidade de terapia intensiva (UTI) e grande
porcentagem com PICS sendo observada a redução na qualidade de vida e a sobrecarga
de cuidados dos familiares e dos serviços de saúde.1,2
Alguns
mecanismos como a hipóxia, hipotensão, inflamação, desregulação da glicose,
catabolismo e deficiências nutricionais podem conduzir a vários prejuízos que interagem
entre si além de tratamentos utilizados durante a doença crítica, incluindo intubação
endotraqueal, repouso prolongado no leito/imobilização, uso de benzodiazepínicos,
outros sedativos e interrupção do ciclo sono-vigília também podem contribuir
para a síndrome pós-UTI.
A fadiga e a fraqueza
muscular são os sintomas mais prevalentes e a recuperação da função muscular
após doença crítica é muitas vezes incompleta. Em estudos com biópsia muscular foram
observadas anormalidades nos músculos esqueléticos de praticamente todos os
pacientes em recuperação da doença crítica que incluem neuropatia axonal,
denervação, atrofia das fibras, neuropatia inespecífica e miopatia necrosante.3 Em outros, a fraqueza muscular
adquirida na UTI foi diagnosticada em 67% dos casos de pacientes ventilados mecanicamente
por um período maior que 10 dias 4 e sinais dessa fraqueza podem
persistir por até 5 anos em 85% dos pacientes. Os sintomas relacionados aos domínios
cognitivo como o dellirium e o mental
como a síndrome do estresse pós traumático, a ansiedade e a depressão também são
prevalentes em grande parte desses pacientes após a alta da UTI. 5
No período em que
o paciente está em ventilação mecânica e restrito ao leito, a
assistência fisioterapêutica no cuidado do paciente crítico pode auxiliar na
identificação precoce de problemas cinético-funcionais. Nesta fase, o programa
de reabilitação incluindo mobilização, eletroestimulação (EENM) e
cicloergometria é recomendado como prática crucial e
segura para recuperação destes pacientes 6–8. A mobilização é uma intervenção viável e segura e ao
ser realizada durante o internamento na UTI promove impacto na funcionalidade
após a alta hospitalar.
A resposta muscular
à terapêutica , seja por cinesioterapia ou por EENM, pode ser mensurada através
da escala de força muscular do Medical
Research Council (MRC), a qual é amplamente utilizada para avaliar a força
muscular periférica em pacientes críticos. Também pode-se utilizar o dinamômetro
para avaliação da força de preensão palmar, a eletroneuromiografia e o
ultrassom como testes diagnósticos.
Diante disso,
nós como fisioterapeutas devemos aumentar a consciência sobre a síndrome pós
terapia intensiva e juntamente
com a equipe multidisciplinar realizar uma abordagem de diagnóstico e tratamento mais coordenada e de seguimento durante a estadia na UTI, desde o dia de admissão para tentar promover impacto na recuperação após
doença crítica com objetivo de melhorar
a qualidade de vida e funcionalidade nesses pacientes.
Dra. Karoline Richtrmoc
Fisioterapeuta Intensivista
1. Needham,
D. M. et al. Improving long-term outcomes after discharge from intensive
care unit: report from a stakeholders’ conference. Crit. Care Med. 40,
502–509 (2012).
2. Merbitz,
N. H., Westie, K., Dammeyer, J. A., Butt, L. & Schneider, J. After critical
care: Challenges in the transition to inpatient rehabilitation. Rehabil.
Psychol. 61, 186–200 (2016).
3. Griffith,
D. M., Vale, M. E., Campbell, C., Lewis, S. & Walsh, T. S. Persistent
inflammation and recovery after intensive care: A systematic review. Journal
of Critical Care (2016). doi:10.1016/j.jcrc.2016.01.011
4. Mirzakhani,
H. et al. Muscle weakness predicts pharyngeal dysfunction and
symptomatic aspiration in long-term ventilated patients. Anesthesiology 119,
389–97 (2013).
5. Parker,
A., Sricharoenchai, T. & Needham, D. M. Early Rehabilitation in the
Intensive Care Unit: Preventing Physical and Mental Health Impairments. Curr.
Phys. Med. Rehabil. reports 1, 307–314 (2013).
6. Morris,
P. E. et al. Early intensive care unit mobility therapy in the treatment
of acute respiratory failure. Crit. Care Med. 36, 2238–2243
(2008).
7. Ricks,
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93, 151–156 (2007).
8. Stiller,
K. Safety Issues That Should Be Considered When Mobilizing Critically Ill
Patients. Crit. Care Clin. 23, 35–53 (2007).
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Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21946660
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