terça-feira, 29 de março de 2016

Treinamento da musculatura inspiratória facilita o desmame do paciente na UTI: uma revisão sistemática.

Treinamento da musculatura inspiratória facilita o desmame do paciente na UTI: uma revisão sistemática.

O doente crítico figura entre 221 e 595 internações por 100.000 habitantes nos países desenvolvidos da Europa, América do Norte e Austrália. Pacientes graves que se submetem à ventilação mecânica prolongada comumente adquirem fraqueza muscular, seja diafragmática ou da musculatura periférica, ambos fatores de risco dificultando o desmame da ventilação mecânica e aumentando o tempo de permanência na UTI. 
Ensaios utilizando o treinamento muscular inspiratório em UTI seja através de dispositivos de carga linear, alinear, ou mesmo através da sensibilidade do ventilador mecânico têm sido publicados com os mais variados resultados e graus de eficiência.
Essa revisão sistemática sobre o treinamento muscular inspiratório na UTI teve como objetivo responder às seguintes questões:
1. Será que o treinamento muscular inspiratório melhora a força muscular inspiratória em adultos ventilados mecanicamente?
2. Como se relaciona o treinamento muscular inspiratório e o sucesso do desmame?
3.Será que reduzir a permanência na UTI, risco para reintubação ou traqueostomia; e quanto a sobrevida, readmissão, ou a necessidade de VNI pós-extubação?
4. O treinamento muscular inspiratório é tolerável e não causa efeito adverso?

Quanto à primeira pergunta acima, a revisão ratificou que o treinamento muscular inspiratório melhora significativamente a pressão inspiratória máxima (MD = 7 cmH20, 95% CI 5-9). Detecta-se que em alguns ensaios o grupo experimental teve maior oportunidade de praticar o procedimento de medição da pressão inspiratória máxima (por exemplo, durante titulação da carga de treinamento) possibilitando alguma melhoria da pressão inspiratória máxima atribuída à familiarização com a técnica.

No que diz respeito ao sucesso do desmame, o efeito do treinamento muscular inspiratório impõe 1,34 vezes mais chances de desmamar com sucesso, porém a estimativa do efeito do treinamento sobre a duração do desmame não foi estatisticamente significativa, mas o intervalo de confiança fez excluir a possibilidade de agravamento substancial do tempo de desmame devido ao treinamento. 

Quanto a necessidade de VNI, o treinamento muscular inspiratório não reduziu significativamente a necessidade de VNI após a extubação, embora a probabilidade de necessitar de ventilação não-invasiva foi menor no grupo treinamento muscular inspiratório (risco relativo de 0,44), reduzindo significativamente o seu tempo de utilização média de 16 horas mais curto no grupo treinamento muscular inspiratório (IC 95% 13 a 18).
Com relação à duração da ventilação mecânica, sete estudos acompanharam a duração total da ventilação mecânica para 305 pacientes encontrando uma diferença média de 2,3 dias a menos no grupo treinamento muscular inspiratório, porém este achado não foi estatisticamente significativo (95% CI -0,5 a 5,1). 

Para a reintubação, dois estudos relataram em seus resultados o número de reintubações entre 117 pacientes. O treinamento muscular inspiratório não teve efeito significativo sobre reintubações (risco relativo = 1,00, 95% CI 0,38-2,64). 

Quanto à traqueostomia, dois estudos descreveram os resultados em 133 pacientes no total. O risco relativo para receber uma traqueostomia não foi significativamente afetado pelo treinamento muscular inspiratório (risco relativo = 1,31, 95% CI 0,31-5,50).

Na duração da permanência no hospital e UTI, apenas um estudo relatou o tempo de permanência numa amostra de 40. O treinamento muscular inspiratório encurtou significativamente o tempo de permanência na UTI, por uma média de 4,5 dias (IC 95% 3,6-5,4) e no hospital, por uma média de 4,4 dias (IC 95% 3,4 a 5,5).

Na sobrevida, quatro estudos forneceram dados sobre 242 participantes. A probabilidade de sobrevida foi ligeiramente superior no grupo de treinamento muscular inspiratório (risco relativo = 1,04), mas esta não foi estatisticamente significativa (IC 95% 0,96-1,13).

Quanto à readmissão nenhum estudo relatou quaisquer dados sobre reinternação na UTI ou no hospital após a alta.

No que diz respeito a eventos adversos e tolerabilidade, o treinamento muscular inspiratório mostrou-se bem tolerado, sendo seguro e viável para pacientes com critérios de seleção bem determinados e apropriados.

A pequena quantidade de estudos randomizados e controlados segregados envolvendo a temática, parece nos dar margem a maiores aspirações no tocante a treinamento muscular inspiratório voltado a pacientes em unidades de terapia intensiva. Alguns princípios como especificidade e sobrecarga do treinamento ainda considero uma terra a ser conquistada, bem como outros questionamentos precisam ser melhor elucidados como por exemplo: o propósito do treinamento, Endurance ou Força? Até quando faço um ou outro? Como sistematizar?  Qual o volume de treinamento para esse tipo de paciente? Até quando estimulo apenas o  catabolismo do meu paciente? Como realizar uma precisa periodização dentro do universo da UTI? Qual o dispositivo utilizar para o treinamento? Trabalhar a musculatura periférica é uma saída? Essas e outras tantas perguntas nos fornecem estímulos para buscar a excelência no que confere o treinamento muscular inspiratório e ficam com temas para pesquisas futuras.
Alexandre Roque -  Fisioterapeuta


Inspiratory muscle training facilitates weaning from mechanical ventilation among patients in the intensive care unit: a systematic review
Mark Elkins, Ruth Dentice 
Sydney Medical School, University of Sydney
Physiotherapy Department, Royal Prince Alfred Hospital, Sydney, Australia
Journal of Physiotherapy 61: 125–134, 2015.

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